A Grafologia é uma pseudociência que utiliza a análise da escrita para inferir sobre trações de personalidade. A palavra é por vezes usada incorretamente para se referir à análise forense de documentos. Neste caso o termo correcto seria grafotécnico ou grafoscopia.
Apesar de estudos científicos comprovarem sua ineficácia, milhares de empresas usaram a grafologia nos últimos anos, por exemplo, para selecção de candidatos.
O modo de escrever pode dizer muito sobre uma pessoa. O ponto sobre a letra I, a forma como ela corta o T, espaçamentos, inclinações e pressão na escrita, entre outros detalhes, revelam características da personalidade do autor das palavras analisadas. E isso não tem nada a ver com adivinhação ou esoterismo. A grafologia é pura ciência, fundamentada no século 19 e vastamente utilizada em países como os Estados Unidos e na Europa, tanto na esfera forense como na selecção de candidatos a vagas de trabalho. "A simples análise da letra manuscrita pode fornecer indícios de virtudes e defeitos de alguém", afirma o grafólogo Paulo Sérgio de Camargo.
Ao aprender a ler e a escrever, as crianças têm caligrafia parecida. Com o passar do tempo, entretanto, a partir dos 7 ou 8 anos, passam a colocar a personalidade em seus traços. A forma de escrever está continuamente em mudança, mas as características que determinam a personalidade permanecem. Isso porque a escrita é uma representação cerebral e não apenas motora. "Como é um gesto cerebral, ela passa pela área das emoções. Então, as condições físicas, mentais e biológicas vão aparecer na forma de escrever", explica Camargo.
O grafólogo analisa o movimento, o traço, o espaço e a forma, integrando esses quatro elementos entre si para chegar a uma conclusão. Há uma avaliação minuciosa de aspectos, como a inclinação das letras, a distância entre as palavras e o cuidado com a pontuação. O desenho de cada letra também é levado em conta. "Um texto manuscrito contém uma incrível riqueza de informações para quem consegue interpretá-lo. Cada detalhe, seja ele um simples traço mais fino ou grosso, é importante para traçar a personalidade e o temperamento da pessoa", diz Camargo. Trocando em miúdos, a partir de tarefas aparentemente simples, é possível avaliar características como agressividade, honestidade, capacidade de liderança e criatividade.
Segundo Camargo, a técnica auxilia na definição de doenças como hipocondria, paranoia, esquizofrenia, alcoolismo, males de Alzheimer e de Parkinson, entre outras. Porém, ele enfatiza que a técnica pode ser mais uma ferramenta nesse diagnóstico. "A grafopatologia deve ser encarada com extrema cautela. O grafólogo não realiza diagnóstico, excepto se for médico qualificado para isso. Mesmo assim, deve recorrer a outros instrumentos para confirmar a patologia." Certas pessoas dizem que são capazes até de perceber se uma mulher está grávida pela escrita.
O primeiro estudo científico sobre a grafologia foi feito na Universidade da Sorbone, na França, pelo pedagogo e psicólogo francês Alfred Binet. Ele analisou textos manuscritos de pessoas normais e outras com problemas mentais, buscando medir o grau de inteligência. Depois, mandou as escritas para diversos grafólogos na França. O resultado foi que 80% das análises batiam com as avaliações de Binet.
A característica que mais chama atenção do grafólogo é a variação da pressão. A escrita é apoiada quando o escritor acentua a pressão no gesto de adução (que vai da direita para a esquerda) ou abdução (que vai da esquerda para direita).
Quando na letra P, o traço sobe acima da zona média, este individuo mostra necessidade de agir e actuar de forma independente. Sofrimento em posições subalternas.
Eis algumas características das personalidades demonstradas na escrita:
Escrita: simplificada, pequena, clara, organizada, de boa legibilidade, retilínea, com assinatura legível. Bom espaçamento entre as linhas e palavras, indica clareza das ideias.
Escrita: desordenada, desproporcional, complicada, precipitada, ilegível, margens irregulares, assinatura diferente do texto. Invasão entre as zonas do textos. Desigualdades entre os espaços das linhas e palavras, indica confusão de ideias.
Escrita: oscilante, progressivo-regressiva, sinuosa, filiforme, margens irregulares, estreita. Interrupções no traçado, indica: exitação.
Escrita: invertida ou vertical, pontuação cuidada e precisa, fechada, organizada, regular, pequena, assinatura igual ao texto e com ponto final. Letras ovais fechadas, margem esquerda regular, poucas variações de longitudes, indica prudência.
Escrita: decrescente, proporcional, organizada, assinatura em fios, pressão variável, indica diplomacia.
Escrita: primeira letra desligada, organizada, proporcional, retilínea, contida, barra do T e ponto no I à esquerda ou centralizados, pontuação cuidada, indica reflexão.
Escrita: extravagante, vulgar, desproporcional, variável, crescente, sobressaltada e com assinatura maior que o texto, indica personalidade exagerada.
Escrita: inibida, empastada, pequena, pausada, letra S fechada na parte de baixo, pontos nos II exactos. Lapsos de ligação, indica pessoa escrupulosa.
Escrita: pontos no I precisos, organizada, clara, concentrada, acerada, pequena, margens pequenas e precisas, barras do T precisas, proporcional, indica personalidade detalhista.
Escrita: oscilante, filiforme, sinuosa, barras do T onduladas, palavras ou letras decrescentes no final das linhas, indica versatilidade.
Escrita: redonda, com pressão leve, inclinada, lenta, pequenas desigualdades de tamanho e pressão, guirlandas e assinatura com curvas e laços, indica amabilidade.
Escrita: cheia de retoques, traços voltados para a esquerda quando normalmente deveriam ser à direita, palavras coladas umas às outras, letras truncadas ou quebradas, ligações em formas de fios, exageros entres as letras, borrões, trocas de letras por outras. Neste perfil, destaca-se como de vital importância a abertura dos ovais na parte inferior, indica insinceridade.
Assinatura: As características do texto são analisadas com a assinatura da pessoa, que, quando é escrita de maneira diferente do texto, é sinal de falta de sinceridade. A assinatura ilegível não indica de modo algum insinceridade. A pessoa pode apenas ser tímida ou preferir resguardar sua privacidade.
A principal crítica à grafologia é a inexistência de base científica que sustente o uso dessa técnica para a investigação da personalidade. A técnica de análise grafológica também é criticada por utilizar regras associativas de carácter simbólico ou analógico sem validade comprovada.
Os críticos da grafologia alegam ainda que não há nenhuma prova de que a mente inconsciente seja um reservatório que guarda a verdade sobre uma pessoa, e muito menos de que a grafologia ofereça um portal para esse reservatório.